No mundo infantil a imaginação e a fantasia confundem-se com a realidade. A criança, quando brinca a fazer de bombeiro, não está a fazer um representação teatral; é bombeiro e, ao seu nível, sente-se e age como tal. Trata-se de um período em que a criança não diferencia claramente o mundo real do fictício, o que explica que antes dos cinco anos pareça mentir - sem que o faça na realidade - quando nos conta factos que ocorreram, ou acções que levou a cabo e que os adultos identificam claramente como fantásticas ou irrealizáveis por ela.
Todos estes factos que a criança relata sucederam realmente no seu mundo mágico. Quando os narra, é preciso fazê-la compreender que isso não aconteceu no mundo em que vivemos, que só o viveu na sua imaginação.Nunca se deve chamar-lhe mentirosa, nem castigá-la por isso, pois, no sentido estrito do termo, não mentiu.
A partir dos 6 anos a situação é diferente. A criança interioriza claramente o conceito de mentira, e sabe como e quando empregá-la em seu próprio benefício. As crianças mentirosas encontram-se com maior facilidade nos lares em que se aceita e pratica a "mentira social" ou de conveniência, ou que têm tendência para adornar e exagerar a realidade.
Desde muito pequena, a criança deve aprender a não mentir, a não deformar a realidade com exageros e a não procurar justificações absurdas para actos incorrectos. Isto é muito mais fácil de conseguir se entre pais e filhos existir uma amizade profunda e ambas as partes forem capazes de abrir o seu coração com naturalidade.
Assim, os pais devem esforçar-se para que os seus filhos sejam sinceros, capazes de expor, realmente o que pensam, sentem ou percebem, sem rodeios, sem complicações e sem exageros.
A sinceridade, que não é sinónimo de uma fraqueza excessiva, pressupõe uma série de atitudes interiores positivas e implica o desejo de procurar a verdade não só no mundo que nos rodeia, mas também no seu próprio interior. Um requisito para evitar deslizar pelo caminho da mentira é gozar de um autoconceito equilibrado e de uma personalidade harmoniosa, isenta de malícia e de temores irracionais.
No nosso tempo, o valor da verdade é, muitas vezes, posto em causa devido a atitudes frívolas e a exemplos sociais corruptos. É tarefa dos pais e educadores fomentar esse valor na criança, contribuindo, assim, para romper com essa lamentável tendência. Há que ajudá-la a compreender que, sem a verdade, o mundo não pode, simplesmente,funcionar, seja qual for a esfera em que analisemos.
Para isso pode recorrer aos modelos que a história também nos oferece: Jesus, Sócrates, Tomás Moro, Lutero, Gandhi... são provas irrefutáveis de que é possível ser-se verdadeiro nas circunstâncias mais adversas.
in "A Criança, a arte de saber educar" - Raúl Posse e Julián Melgosa
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